domingo, 29 de julho de 2007

Helena e as Criaturas da Noite






Helena nasceu numa sexta-feira treze.
Helena não era como as crianças da vizinhança. Enquanto as meninas da rua brincavam de bonecas, helena ajudava o pai com as ferramentas. Suas preferidas eram as afiadas, principalmente machados e facas. Não foi bem aceita na escolinha. As professoras tinham medo dela. Ela adorava decapitar as bonecas. Principalmente das meninas de cabelos loiros. Enquanto as crianças desenhavam casinhas, arco-íris e outras coisas coloridas, helena desenhava caveiras e cemitérios.
Helena aprendeu a ler como todas as crianças da sala. Mas se recusava a ler os livros da estante. Quando era obrigada, fingia. Mas o que ela fazia, era inventar a sua própria versão. Gostava mais daquela, onde a vitima era o pobre lobo, que acabava sempre sendo retalhado pelo monstro assassino chamado chapeuzinho vermelho. Mais tarde quando a moda era ler romances melosos, Helena gostava de Edgar Alan Poe. Seus animais preferidos? Aranhas e morcegos.
Quando fez sete anos foi para escola pela primeira vez. Odiou tudo e todos. Aquilo não era para ela. Mas sabia que tinha que estar ali. Não fez amigos. Como toda criança, Helena também tinha seus amigos imaginários. Na certa pensou em fadas ou mesmo uma linda princesa. Não... Os amigos imaginários de Helena eram Fantasmas, Vampiros, Monstros, Lobisomens, Zumbis, as criaturas da noite. Eles a entendiam. Eram os seus melhores amigos.
Helena gostava quando sua tia do interior vinha visitá-la. Ficava horas ouvindo as historias de fantasmas que só ela sabia contar. Adora assustar as crianças da rua com as historias que ouvia da tia. Mesmo sabendo que seria punida depois. Mas ela não se importava sabia que teria seus amigos para conversar. Muitas vezes o pai ouviu vozes que vinham do quarto da filha.
Helena adorava assistir filmes de terror. Seus ídolos eram Cristopher Lee e Vincent Price. Por causa deles desenvolveu o gosto por roupas pretas. E total aversão ao sol. O evitava o Maximo possível.
Uma vez, Helena foi com o pai ao Centro. Seu pai era dono de uma confecção. Enquanto esperava o pai, Helena descobriu a Galeria do Rock (isso foi no final dos anos setenta). Ela ainda não conhecia nada de musica. Mas aquele dia tudo mudou. Helena andou por todas as lojas. Viu e ouviu de tudo. Viu os primeiros Punks de são Paulo. Mas o que mais gostou foi às roupas, muitos se vestiam de preto assim como ela. Arrastou o pai para uma das lojas. Queria discos. O pai comprou afinal, ela passou de ano. Quando chegou em casa subiu correndo para o seu quarto. Queria mostrar a sua descoberta para os amigos. Que a esperavam escondidos no guarda roupas. Na sua pequena vitrola, Helena ouviu os discos que ganhou do pai. Ela e os amigos dançaram a noite toda.
Com o tempo, Helena cresceu. Tomou corpo de mulher (apesar de ter apenas dezesseis anos) agora ela tinha amigos. E novos interesses. Mas uma coisa continuava a mesma a sua amizade com suas criaturas da noite. Que agora, saiam com ela, Não ficavam mais trancados no quarto. Juntos se divertiam na noite paulista dos anos oitenta. Ela ainda freqüenta as galerias. Tem muitos amigos por lá.
Durante anos, Helena e seus amigos soturnos riram, choraram, odiaram, compartilhavam todos os sentimentos e segredos, os bons e os maus. Mas a faculdade chegou e com ela a maturidade. Um dia quando chegou em casa, apenas um de seus fantasmas estava lá a sua espera. Ela pergunta pelos outros. O pequeno fantasma responde que se foram. E que ele ficou para se despedir e explicar.
- Você cresceu, não precisa mais de nós. Explicou o fantasma.
Aquilo doeu. Soava como traição e abandono. Mas no fundo do coração, Helena sabia que tinha de ser assim.
- Vou vê-los novamente? Perguntou Helena sem conter as lagrimas.
- Não. Mas não fique triste. Viva sua vida. Com toda a força que puder. E nunca se esqueça de nós. Nós não vamos esquecer de você.
Helena apenas acenou com a cabeça.
- Adeus criança.
Helena levantou a cabeça, enxugou as lagrimas e olhou em volta. Pela primeira vez em anos, estava sozinha no quarto.
Helena se tornou uma grande jornalista. Casou-se e teve uma linda filha. Ainda mora na mesma casa. Seu quarto agora pertence à pequena Maria. Sempre que passa na porta do quarto, Helena ouve vozes, nas não se preocupa. A pequena Maria não esta sozinha.



MH: POR MAIS QUE ISSO DOA, UM DIA TEMOS QUE CRESCER.

domingo, 15 de julho de 2007

Amor após a Morte.





André trabalhava em um grande banco no centro de São Paulo. Não era casado e não tinha namorada ou mesmo amigos. Colegas, Talvez. Como não havia ninguém esperando por ele em casa, ele não se importava em ficar ate mais tarde. Sempre pegava o ultimo metrô. Essa rotina durou dois anos. E nesse tempo, ele se acostumou com as mesmas caras. Apesar de serem poucas.
Certa noite, essa rotina foi quebrada. André nunca gostou de conversar com estranhos, principalmente no metrô. Uma garota. Sentou-se ao lado de André, mesmo o trem estando quase vazio. O primeiro impulso de André foi de se levantar e sentar-se em outro lugar. Mas não o fez, ficou ali. Ele a observa. Gosta de sua pele branca. E de seus longos cabelos. Sua camiseta deixa um decote quase indecente. Ele não deixa de perceber os belos seios salpicados de pequenas sardas. Ela também percebe que André a olha com desejo e timidez. Ela puxa assunto. André reluta, mas acaba cedendo. Ela diz seu nome, mas ele não consegue guardar. Durante toda viagem eles conversam. Ele não entende, como uma garota como aquela estava desperdiçando seu tempo com ele. Mas o mais estranho, é que ela o conhece. Ela sabe de seus medos, de suas duvidas, de suas fantasias. Ele por outro lado, começa a se afeiçoar por aquela garota. Uma voz metálica anuncia a próxima estação. Ela precisa ir. Mas se ele quiser, ela pode esperá-lo na mesma plataforma. Ele diz que sim. O trem para e ela sai. André tenta segui-la com os olhos, mas ela desaparece na estação vazia.
Na noite seguinte, André espera sua nova amiga. Amiga. Essa era uma coisa que ele achou que jamais teria. Ele vê a luz que se aproxima. É o trem. E onde ela está? Teria se atrasado? Ou algo aconteceu. Não. Ela foi apenas gentil comigo. Teve pena, apenas isso. O trem para e abre suas portas. André olha em volta mais uma vez. Ela poderia aparecer derepente. Mas nada. Ele se senta no lugar de sempre. O metrô esta vazio. E ele não consegue segurar as lagrimas. Duas estações passam. André observa os túneis escuros. Novamente a voz anuncia a próxima estação. O trem para. As portas se abrem. Ele não se importa com quem entra ou sai. Ele sente um leve perfume de jasmim. E uma voz doce e gentil diz: Oi... André. Ele olha. Para o lado, é ela! André tenta disfarçar os olhos vermelhos com uma péssima desculpa. E ela finge que acredita. Ela se desculpa. Diz que tinha negócios em outros lugares. Mas André não se importa ela estava sentada ao seu lado outra vez.
Nas semanas que se passaram, André chegou a uma obvia conclusão. Ele amava aquela garota que ele não conseguia guardar o nome. Mas e se ela tivesse alguém? E se ele estivesse confundindo as coisas, ela poderia estar sendo apenas gentil com ele. Perguntar era um risco. Mas esse risco ele tinha que correr. E seria naquela noite. Ele chega na estação. E olha para os lados. Ela esta lá, e juntos esperam o trem. É agora. ele tem que saber. André enche o peito e pergunta: você tem alguém? Com a cabeça ela responde: Não. Ela era livre. E sim. Ela gosta dele. Agora André é um homem feliz.
O dia seguinte segue normalmente. André comprou flores para sua amada. Mas não escreveu cartão. Afinal ele não consegue se lembrar de seu nome. Ele tem muito trabalho no banco, mas não esta nem ai. Estava feliz demais para trabalhar. Resolveu matar o tempo lendo um velho jornal. Nada de interessante, só noticia velha. Mas uma coisa lhe chamou atenção. Uma garota suicida? Sim ele se lembra de ter visto um tumulto na plataforma. Nas não deu atenção afinal, não era da sua conta. A suicida tem nome. Juliana. A noticia mexe com André. Alguma coisa dói em seu peito, como se estivesse para perder algo de estimado valor. A noite chega e com ela, medo. Ele chega à estação do Metrô. Ela o espera do outro lado da plataforma. Ele não sabe o porque, mas ele a chama em voz alta: “Juliana?” Ela responde com um aceno de mão. Ele pode ver as lagrimas que correm por seu rosto. Seu coração dói. Ele sabe que vai perdê-la. Mas ele sabe o que tem que fazer. Ele espera o ultimo trem aparecer. Ele a olha com amor. E salta. Tudo acaba rápido. Uma senhora grita. Ele já não sente dor alguma. Ela esta de pé ao seu lado. Agora para sempre. Isso aconteceu há dez anos. Mas tem gente que jura que eles estão juntos. E é possível vê-los no ultimo vagão, do ultimo trem.

MS: Sim. É possível Amor após a Morte

domingo, 8 de julho de 2007

TreiHaus



Biip” “Biip” “Biip”
Andréa abre os olhos. O digital do relógio avisa: são seis da tarde. Seus olhos ardem. Ela se levanta o quarto está escuro. Mas isso não é problema. Ela abre a janela. Ainda é possível se ver o sol se pondo no horizonte. Seu toque já não oferece perigo. Sua boca tem um gosto estranho. Se ela não fosse um vampiro, poderia ser ressaca. Ela anda pela casa. Ela tenta entender o que houve. No sofá da sala um belo casal. Agora ela se lembra. Ela os trouxe da rua. Ao contrario de outros vampiros, Andréa gostava de caçar em clubes e boates. Era mais fácil, dispensava o blá, blá, blá. Ela os examina. O no bolso do rapaz ela encontra o motivo de sua “ressaca” cocaína. Sangue drogado e tudo que ela não precisa. Um banho. Sim. E disso que ela precisa. Enquanto a água quente enche a grande banheira, Andréa se olha no espelho.(não acredite em tudo que lê sobre os vampiros). Ela mexe no cabelo ruivo. Ela já não se lembra qual era a com original. Ela se vê nua no espelho e pensa: “Nada mal para uma senhora de oitenta e três anos” seu banho é demorado, ela não tem pressa. Embora já não sinta frio ou calor, Andréa gosta de banhos quentes. Gosta de ficar olhado o vapor tomar todo o banheiro.
Na sala, Andréa vê o jovem casal no sofá e se lembra que ainda tem que dar fim nos corpos. Essa era à parte difícil da coisa. Não que o peço a incomode. Ela os carrega como bonecos de pano. O elevador de carga desce ate o poderoso incinerador do prédio. Em poucos minutos só restara apenas boas lembranças. Pelo menos para Andréa. Pronto. Ela esta pronta para mais uma noite de caça. Nos últimos vinte anos, Andréa tem sentindo falta de algo, mas ela não sabe o que é. Isso a irrita. Mas esta noite ela não pensaria nisso. Afinal, as noites de sábado são as melhores. Podia-se esperar de tudo. Isso a excitava.
Andréa era um tipo único de Vampiro. Ela gostava de andar com os humanos. Enquanto os seus “Primos” gostam de becos escuros, Andréa gosta de agitação. Poderia saltar sobre velhos telhados, mas para que? Se andar é muito melhor. Ela caminha entre os humanos assim como um lobo faminto anda entre ovelhas. Ela os observa, os estuda. Avalia cada movimento. Ela agora sobe a Rua Augusta. Ela vê os carros que param para s meninas. O movimento é grande. Os cheiros se misturam. Perfumes caros, adrenalina e sexo. Ela quase se deixa levar por uma bela garota seminua. Mas ela sabe que ali é região de caça de outros como ela. E uma briga agora acabaria com sua noite. A Avenida Paulista. Com suas luzes e seu intenso movimento. E o melhor ali não é área de ninguém. Ela assobia uma canção dos The Smthis “Ask” enquanto pensa: Aonde ir hoje? Não gostava muito de caçar na rua. Mas a noite estava quente. Seria um pecado ficar fechado. Então, Andréa vê um grupo de jovens subindo a rua da consolação. Não seria nada de mais se não fosse o modo como estavam vestidos. Não eram nada parecidos com os demais jovens do final dos anos 80. Todos vestidos em sua maioria de Preto. De inicio ela pensou que eram outros vampiros. Mas mesmo estando a uma grande distancia, Andréa consegue vê-los e ouvi-los nitidamente. Não. São apenas garotos. E pela conversa ainda a mais. Tomada mais pela curiosidade do que pela “fome”, Andréa decide segui-los. Não demora e eles chegam na alameda Jaú. Sim é verdade, há muito mais deles. Todos reunidos na frente de um sobrado.
Do outro lado da rua, Andréa observa aqueles jovens. Ela olha o sobrado. Ela gosta de sua cor e dos morcegos pintados. Lá dentro musica alta. Mas só ela e capaz de ouvir do lado de fora. Ela pensa: porque não? Poderia ser divertido e se não gostasse poderia se alimentar em outro lugar. Ela entra. Ela ri do que vê. Mas não é um riso de desdém, mas sim um leve sorriso de quem realmente gostou do lugar. Ela olha para o bar. Garrafas coloridas o decoram. E um leve cheiro de incenso perfuma o ar. Ao seu lado uma escada caracol. Onde rapazes e moças descem correndo sempre que uma determinada musica começa. Ela olha para baixo, e resolve descer. E a pista de dança. Pessoas dançam banhadas por uma forte luz branca que pisca muito rápido. Ela não conhece a musica que esta tocando, mas gosta do refrão: “Now I’m Feeling Zombiefied”. E se deixa levar para a pista. E dança por horas. Mas ela ainda precisa se alimentar. Então, ela o vê. Saindo da pista. Ela o segue, mesmo estando escuro ela o vê subindo a escada. A caçada tem inicio.
Mas ou contrario. Do que você imaginou, Andréa não expôs seus caninos e o mordeu ali mesmo. Não! Primeiro seria loucura, depois não é esse seu estilo. Ela é sutil. Ela o procura. Ali. Sentado na janela. Ela se aproxima. Ela nem precisou usar de artimanhas para puxar conversa. Ela descobre o seu nome, é Carlos, mas os amigos o chamam de Carlinhos. Por um tempo eles conversam, e Andréa já não sabe explicar porque ainda não vez o que tinha que fazer. Ela já estava ali há horas logo o sol vai nascer. Ela tem que ser rápida. Apesar disso, ela não quer deixar de ouvir a voz de Carlinhos. Ele a chama para a pista. Esta tocando uma musica que ele gosta. Ela aceita e o segue. Ela permite que ele pegue sua mão. De baixo da escada um velho sofá. Eles descansam. E acabam se beijando. Um beijo longo. Andréa já tinha se esquecido desse tipo de coisa. Quando se é vampiro, se tira prazer do ato de se alimentar. Mas ela gostou. Seria agora. Estava escuro e o tempo é curto. Normalmente ela ataca com rapidez e crueldade. Mas não agora. Ela coloca Carlinhos em transe profundo, o recosta no sofá e com cuidado, se alimenta do sangue quente de Carlinhos. Mas o prazer é mutuo. Carlinhos também sente prazer. Uma pena que não vai se lembrar disso depois. Depois de totalmente saciada, Andréa lambe o ferimento escondendo assim qualquer sinal de sua existência. Ela olha para Carlinhos. Ali deitado. Ela já não sabe explicar como se sente. Seu relógio avisa. Seu tempo acabou se ela não for agora será o fim.
Seria impossível aos olhos humanos, ver Andréa sair do sobrado. Agora ela teria que “apelar” não dava para esperar, teria que ser do jeito antigo. Correndo por entre os telhados e velhas caixas d’água. O céu já esta claro quando ela entra pela janela. Desta vez, quase é ela que encontra o fim. Já na segurança de seu apartamento, ela se lembra que quando estava saindo ouviu o nome do lugar. TreiHaus. Sim. Era esse o nome. Ela não vai mais esquecer. Quando der ela volta. Agora... Quanto a Carlinhos, ela tinha planos para ele. Ela se alimentou de seu doce sangue. Ele não tem segredos para ela. Agora ela já sabe onde achá-lo. Ela também descobre o que era aquela sensação que tanto a irritava. Companhia. era isso. Sim ela já não quer mais ficar sozinha. E Carlinhos seria seu companheiro. Isso aconteceu há quase vinte anos. Hoje, os dois caçam juntos. Em clubes e boate de São Paulo. E são e serão felizes para sempre.

MH: Amor. Difícil explica-lo de uma forma racional. Ele apenas acontece

sábado, 7 de julho de 2007

Necromance



Ele os observa.
Todos os dias eles chegam, alguns normais outros impossíveis de descrever sem causar náusea. Mas para Reginaldo era apenas trabalho. Ele ganhava bem e tinha estabilidade. Para ele já estava ótimo.
Trabalhar no I.M.L, tinha lá seus prazeres. Trabalhava a noite, era assistente (faz tudo) dos legistas. Não tinha chefe chato, e poderia ficar de papo para o ar a noite toda. E não se importava de estar sempre na presença da morte. “Tenho medo dos vivos”.Dizia.
Regis (era assim que gostava de ser chamado) já estava naquele emprego a mais de três anos, e nesse espaço de tempo, nada alterava sua rotina. Mas tudo mudou naquela noite fria de inverno. Já passava das três da manha quando uma suicida deu entrada. Regis era curioso. Gostava de ver os corpos que chegavam. E alem do mais, sempre se podia ganhar um extra. Como? Jóias. Relógios, anéis de ouro, correntes de família. Esse tipo de coisa. Suas vitimas ideais eram as pobres velhinhas. Essas sim davam lucro. Mas essa noite era diferente. Não era uma pobre velhinha. Ele esperou os médicos irem embora. Olhou o corredor. Pronto, estava sozinho com seu tesouro. Ele abre a porta. A luz branca do corredor ilumina a sala escura e gelada. Ele acende a luz. O corpo ainda esta na maca. Ótimo. Ele olha pela pequena janela da porta. Sem excitar levanta o lençol. Uma moça. Talvez vinte e cinco anos. Ele ironiza “Tão nova” ela esta nua. Ela a puxa para mais perto da luz. Agora ele pode vê-la melhor. Uma moça bonita, de longo cabelo castanho. E uma expressão de paz. Seus lábios são vermelhos, e sua pela e branca. Seu corpo ainda conserva o calor da vida. Agora ele a olha inteira. Nua em cima daquela maca. Ele ri e faz piada. Espere. Alguma coisa chama sua atenção. Ele a conhece. Sim. Mas de onde? Como um abutre, ele anda em círculos. E pensando, de onde ele a conhecia. Quando sua mente viaja anos no passado. Pronto. Agora ele se lembra. Eles estudaram juntos. Seu nome é Luciana. Sim é isso Luciana. A garota mais desejada do colégio, menos por ele. Todos os seus amigos comentavam, alguns contavam mentiras outro simplesmente criavam fantasias com ela. Ele não entendia o porquê disso. Ok... Ela era muito bonita. Mas ela nunca o atraiu. E por causa disso teve que aturar as piadinhas dos amigos. Agora ela estava lá. Morta e nua. Regis ficou lá parado olhando para Luciana. E pensando como são as coisas. Todos diziam que ela se daria bem na vida. E agora...
As horas passam e Regis desiste de saquear o corpo da bela Luciana. Ele bate o cartão e vai para casa. Mas ele não consegue dormir. Ele se levanta, abre a janela, o sol fere os seus olhos. Suas esposa esta trabalhando ele esta só em casa. Ele anda de um lado para o outro. Fica pensando nos velhos amigos que dariam tudo por Lucina. E só ele teve esse prazer. Prazer. Essa palavra lhe suou diferente agora. Ele vai se deitar. Dorme um sono agitado. Repleto de estranhos pesadelos. Ele ouve a voz de Luciana. Ela o chama, ela pergunta: “Você não me deseja?”. O despertador toca, são cinco da tarde. A cabeça dói. Sua esposa já esta em casa. Há nevoa em seus olhos. A casa esta escura. Um barulho vem da cozinha. Ele balbucia baixinho: Luciana? Não. Era sua esposa que preparava o jantar. Ele não tem fome, seu estômago também dói. Ele se despede e sai para trabalhar.
O metrô esta vazio apenas alguns lugares ocupados. Ele senta na janela gosta de ver as coisas passarem. Isso sempre o acalmou. O trem para. Mais uma estação. As portas se abrem. Poucas pessoas entram. Ele as vê por cima dos óculos. Ele olha em volta. E ela esta lá sentada dois bancos a sua frente. Luciana. Olhando para ele com seus olhos mortos. Seu coração quase para. Não pode ser! Ela esta morta, não pode estar aqui. Quando o trem sai do túnel, Lucina não esta mais lá. Talvez nunca esteve. Isso é efeito do sono ruim.
Apesar de tudo, Reginaldo é pontual. Ele chega, pega o elevador que o leva para o andar inferior. Uma pesada porta separa o necrotério do resto do prédio. Ele olha para o extenso corredor branco a sua frente. Ele nunca havia notado como eram brancas as paredes. E as frias placas de aço inox. Eram brilhantes. Ao seu encontro, uma freira com seu abito negro. Ela passa por ele como um fantasma. Seu andar era rápido e silencioso. Dando a impressão que ela estava um palmo acima do chão.
Como um robô, Reginaldo cumpre as suas tarefas. Mas seus pensamentos estão na grande sala no final do corredor. Ele não para de pensar em Luciana. Ele quase pode ouvir ela o chamar: “Venha me ver Reginaldo” ele luta contra a vontade louca de ver o cadáver de Luciana. Mas força de vontade nunca foi uma de suas virtudes e ele se rende. Depois de verificar se estava só, Regis entra na câmera. Agora Luciana esta na gaveta. Esta muito frio, mas ele não se importa. Seus lábios estão mais vermelhos. Ele a toca. Ela esta fria. Mas continua bela, ele passa a mão em seus seios, em seu sexo. Ele não entende. Não tinha tesão por ela quando era viva. Com podia desejá-la depois de morta. Reginaldo mal pode controlar o desejo. Ele pensa em se masturbar ali mesmo. Afinal quem poderia descobrir. Mas ele tem outra Idea. Reginaldo estende um lençol no chão da câmera, e com cuidado ajeita o cadáver no chão. Sem se importar com o frio cortante. Reginaldo fica nu. E se deita ao lado do cadáver de Luciana. Ele a beija com carinho. Seus lábios são doces. Depois de alguns beijos apaixonados, Regis é tomado por uma onda de calor. E com força e paixão, violenta o belo cadáver de Luciana. Vinte minutos depois, Reginaldo tem o maior orgasmo de sua vida. Nem uma mulher viva já tinha lhe dado tanto prazer. Ele não se preocupa em usar camisinha afinal, não há rico de gravidez. Depois de tudo terminado. Reginaldo colocou tudo em seu devido lugar. E se vestiu. No final de seu turno. Ele foi para a casa. E dormiu como nunca tinha dormido antes. Na hora certa Reginaldo de despediu da esposa e foi trabalhar. Na manhã seguinte o corpo da jovem Luciana havia desaparecido. E o apaixonado Reginaldo nunca mais voltou para casa.

MH: Pessoas vemos, Taras não sabemos.

domingo, 27 de maio de 2007

O Banquete.


Mestre Leitor. Saudações. Os Contos O Visitante, Millena, A Dama Branca, Recados, A Santa do Arouche e Gallore. Fecham a primeira face de “Contos e Gatos”.
Agora, me deixe guiá-lo por lugares escuros e sombrios. Lugares que só conhecemos no pior dos pesadelos ou no fundo de nossas almas.”
Boa Leitura.


Ai vem eles. De todas as nacionalidades. De todas as línguas. Eu apenas os observo. Fico de longe. Eles entram aos grupos. Casais em lua de mel, casais com seus filhos, grupo de moças, rapazes em busca de aventura no pais onde tudo é permitido. Só não sei se eles sabem, O que eles querem geralmente se acha no litoral. O que eles querem em são Paulo no inicio do inverno? Mas não me preocupo. No final eles vêm a mim.
“Ping”
Soa a campainha.
- Rapaz!?
O gerente acena com a mão em minha direção. Eu fico puto com isso. Tenho vontade de arrancar a mão desse filho da puta. Mas ainda não é possível. Mas um dia desses...
-Rapaz, leve os cavaleiros ate a suíte máster. Por favor.
Uso o que aprendi no treinamento. Apenas aceno com a cabeça sempre com um sorriso. Coloco suas malas no carrinho. São poucas, mas não vou me matar por esses idiotas europeus com cara de salsichão. No elevador e no corredor vou ouvindo as piadinhas. O maior erro dos gringos e pensar que brasileiro é idiota. Acham que falando em inglês não vou saber o que estão conversando. Eles são em três. O mais velho parece ser o líder e diz que vai ser a maior putaria. Que as brasileiras não podem ver um estrangeiro, que logo vão abrindo as pernas. Eu apenas escuto outro diz que já ouviu historias sobre as cariocas. Esse idiota não sabe onde esta. Eu apenas escuto. O terceiro é o mais alto e o mais novo de todos e o alvo de suas piadinhas é meu uniforme. “Olha que roupa de viadinho. Acho que vou comer esse ai Antes de irmos embora”. Meu sangue ferve. Mas por agora eu apenas escuto.
- It is here.Mrs.
Abro a porta do quarto para eles. Sigo o manual. Mostro tudo para eles e digo se precisarem de alguma coisa eu estaria às ordens. Em inglês. É claro. Mesmo assim ouvi piadinhas. O mais velho me da vinte dólares.
-Gracias.
Respondo do mesmo jeito.
- De nada. Señor.
Seria fácil. Afinal são apenas três. Não! Tenho que ser paciente. E também o corredor esta cheio de câmeras. Não vale a pena se arriscar por esses cretinos.
Trabalhar em um hotel cinco estrelas tem lá suas compensações. Dá para conhecer muita gente boa. Gente descente. Mas é um ótimo lugar para a caça. Como eu já disse, todo o mundo passa pela portaria. Alemães, japoneses, americanos e por ai vai. Alguns são finos e educados. Sabem tratar as pessoas com educação. Não importando se são hospedes ou trabalhando. Felizmente para nos. Eles são minoria. Todo gringo acha que estamos aqui para servi-los como se fossemos escravos. Grande, grande erro.
A semana passa sem mais atritos. Vejo os “amigos” na piscina. Observo de longe. Mas da para ver tudo que fazem e falam. A garota responsável pelas toalhas passa correndo por mim. Um dos idiotas apalpou sua bunda. “Sem querer”.Calma, meu velho. Calma. A hora deles vai chegar. Sempre chega.
Sexta-feira. É quando as coisas acontecem. Durante todo dia a piscina e a academia ficam lotadas. Todos acham que da para ficar em forma em apenas um único dia. Tolice. E assim durante todo dia. À noite eles desfilam pelo Hall. Roupas caras e corpos bronzeados. Os serviços de Táxi e acompanhantes trabalham sem parar. Eu sei meu lugar nisso tudo. Do lado de fora do hotel. De longe sinto o cheiro deles. Minha labuta diária acabou. Finjo atravessar a rua.
- Hei Amigo.
Olha por cima do ombro. É o mais velho que me chama.
- Sim em que posso ajudá-los?
Ele tentar conversar usando uma mistura de português e espanhol.
- Aonde puede encontrar a algunas muchachas? nosotros pagamos bien!
Uma breve conversa, ele me explica que quer umas garotas. O mais novo é seu irmão. E que quer dar a ele a melhor trepada de sua vida. E nada mais legal que uma garota brasileira para isso. E que “El dinero” não era problema. Eu finjo relutar, mas acabo concordando. Eu os levo para um show na rua Aurora. Eles adoram. Ganhei a confiança deles. Mas eles querem mais. Eles sempre querem. Ofereço um lugar alternativo a eles. O lugar ideal para a tal trepada. O táxi nos leva ate a boca do lixo. Um prédio na General Osório. Nos entramos. eles não demonstram medo. O sangue de suas cabeças esta em outro lugar. A musica é alta. O lugar esta cheio. É uma garagem abandonada. Uma morena se aproxima de nos.
- Senhores, essa é Joanna. Espero que esteja a altura do seu irmão.
Tudo que ele consegue dizer é um sonoro
- My God. Thank’s man!
A Bela Joanna arrasta o garoto para o canto escuro. Eu olho em volta e vejo que eu não fui o único a trazer carne fresca. O lugar esta cheio de gringos. O jantar esta servido. A lua alcança o centro do céu sua luz prata entra pela clarabóia. Chegou à hora. Todas luzes e o som são desligados. Apenas a luz da lua enche o lugar. Agora podemos ser quem realmente somos. Deixo o lobo sair. Sinto meu corpo e meus pelos que começam a crescer, Minhas garras tomam o lugar das unhas. Sinto o meu rosto afocinhar, já não vejo as cores. tudo agora esta cinza e preto. Mas vejo o coração batendo levando sangue e adrenalina. Isso deixa a carne macia. Em dez minutos a transformação esta completa. Agora sou o que chamam de lobisomem. E quer saber? Eu adoro isso. Olho outra vez em volta, o lugar esta cheio de Licantropos. Nossa líder Joanna é a mais sádica, ela gosta de se alimentar ouvindo os gritos de sua caça. Falando em caça, um deles correu, não importa. E o mais velho que eu quero. Ele olha para mim e grita vejo as lagrimas salgadas rolarem. Jóia. Temperada. Hummmm. Delicia. Não sou como nossa líder. Eu ataco. Sinto um de seus olhos azuis estourar em meu dente. Corto ossos e nervos com minhas garras. O sangue quente jorra. O prazer da caça.
- Auuuuuuuuuuuuuuu!
Tudo que é bom acaba. O sol reclama o sue lugar no céu. Tudo acabou. Voltei à condição lastimável de humano. Mesmo nos temos regras. Se livrar dos ossos e de tudo que possa dar sinal de nossa existência. E podemos ficar com que quisermos. Dinheiro, jóias coisas assim. Eu queimo os ossos, os passaportes e qualquer evidência de existência dos gringos. Volto ao trabalho. Na recepção vejo o gerente ligando para a policia. Os gringos fugiram sem parar.
- Nossa, que coisa hein seu Amaro.
- Pois é meu rapaz. Não se pode confiar em ninguém.
Ele tem razão. Não se pode confiar em ninguém. Principalmente em noites de lua cheia. Enquanto a lua não vem, eu vou ate a pajé comprar um videogame novo. Afinal eu tenho dois mil dólares. Que os gringos me deram pela noite de ontem.
Auuuuuuuuuuuuuuuu.


MH: Respeito e educação cabem em qualquer lugar. E fique longe de festas na boca do lixo.




Gallore.


Assim como os humanos, nos gatos também gostamos de nos reunir para conversar. Assim passamos ensinamentos, lendas e sabedoria aos gatos mais jovens. Sempre com a presença do gato mais velho da região. Não importava o território. Sempre o gato mais velho.
Nessas reuniões falamos de tudo. Brigas por território, por fêmeas ou por pura diversão. Mas quando o mais velho chega. Nos ficamos todos em silencio. Ele fala, nos escutamos. Essa noite o orador era o honorável Boris. Ele sobe ate a caixa d’água mais alta. E nos observa. Seu pêlo é de um cinza intenso e seus brilham como dois diamantes. À noite esta limpa não há uma única nuvem no céu e a lua cheia ilumina a todos. Quando todos estão em silencio ele começa.
- Bem vindos irmãos. Agradeço por estarem aqui, e a atenção que dão a este velho.
O silencio é total.
- Sei que muitos aqui já ouviram a historia que vou contar. Mas vejo muitos filhotes aqui hoje e tenho a obrigação de passar a lenda para frente. Se algum irmão quiser, pode se retirar com a minha benção.
Mas nenhum gato se moveu.
- Obrigado. A historia que vou contar é sobre o nosso salvador, do gato que ira nos liderar na guerra contra os humanos. Ao passar dos séculos ele ganhou vários nomes. Mas, eu sei seu nome verdadeiro. Seu nome é Gallore. Gravem bem esse nome meus filhos. Pois é ao lado dele que iram lutar.
- Como o senhor sabe disso?
Alguns olham com olhos opressores para o filhote de pelo branco.
- Não irmãos. Não repreendam o filhote ele tem o direito de perguntar e fico feliz com isso. Escute pequenino. Houve uma época que nos éramos adorados como Deuses. Tínhamos lacaios humanos que nos alimentavam e acariciavam nosso pêlo. Mas já estava previsto que nosso reinado sobre os humanos seria breve. Mas também estava previsto que a Deusa Bastet nos mandaria um gato superior. Um gato que pensaria como um humano.
- A Deusa já o mandou para nos senhor?
- Sim pequenino. E há séculos caminha entre nos. Ele é imortal.
- Besteira. Escuto isso desde que era apenas um filhote. Não existe gato imortal algum
Retruca um gato que acabara de se mudar para o nosso território.
- Cale-se. Ordena o nosso líder.
Uma breve discussão toma conta dos gatos no telhado.
- Irmãos, Irmãos... Por favor, deixem que eu acabe a historia.
O silencio volta ao telhado.
- Sua historia se confunde com a do homem. Reza a lenda que ele nasceu no antigo Egito e vem caminhando ao seu lado século após século. Viajou por toda o planeta a bordo de navios. Passando a mesma mensagem que tento passar durante toda a minha vida. Na idade media foi perseguido, queimado vivo. Por conta do medo do homem. Mas sempre voltava. Na renascença, poetas se inspiram em sua elegante postura. E criaram grandes poemas. Mesmo nas grandes guerras, ele nunca deixou de passar a mensagem. E cada gato que a escutava tratava de passá-la adiante. E assim tem sido desde tempos idos. Agora. Ele espera que façamos a nossa parte. Devemos nos unir. Devemos pensar em comunhão.
- Desculpe senhor, mas é meio difícil pensar que todos os gatos do planeta pensem uma coisa ao mesmo tempo.
- Não filho. Não precisamos dos gatos do mundo. Precisamos apenas que Mil Gatos. Queiram a mesma coisa.
Novamente a discussão toma conta do telhado. Gatos crentes e gatos descrentes.
- Não adianta é sempre assim. Nunca voltaremos a ser deuses. E é tão fácil. Basta acreditar. Mas infelizmente vai ser impossível.
- Senhor. Eu acredito. Diz o pequeno filhote de pêlos brancos.
- Então ainda há esperança.
O telhado agora esta vazio. Apenas um gato permanece. Um gato de Pêlo abóbora e listrado de cinza. Ele olha para a lua.
- Breve.


MH: Não estranhe se seu gato lhe rasgar a garganta um dia desses.

sábado, 26 de maio de 2007

Millena.



Millena era o tipo de garota que todas as outras gostariam de ser. Bonita, Rica, Milhares de amigos. Garotos matariam por um minuto de sua atenção.(Alguns até mataram). Sua vida era um mar de rosas. Não trabalhava e não gostava muito de estudar. Pensava: Sou Bonita, não preciso disto. Sua pela morena encantava a todos. Com seu grande sorriso conseguia o impossível. Millena tinha um lema: se dar bem sempre. Não importava se Para isso pessoas saíssem feridas ou machucadas (emocionalmente ou fisicamente).
Sua casa era linda. O sonho distante de muita gente. Mas Millena a odiava. Ela achava pequena demais. Apesar de odiar o teto que a abrigava, Millena adorava seu quarto. Seu pequeno mundo particular. Tudo (ou quase tudo) que ela amava no mudo estava ali. Suas roupas caras, sua grande cama rosa. Seus perfumes caros. Seus Cd’s e seus “Brinquedos íntimos”.Sempre que saia de seu banho demorado, ficava em pe em frente de seu espelho de cristal. Ficava se observando. Admirando seu corpo perfeito, conseguido com malhação e bulimia. Gostava de ficar admirando seus seios perfeitos. Os melhores que o pai pode pagar. Mas seu pequeno mundo não estava completo faltava uma coisa. Rogério. Era a única coisa que ela não pode ter. Rogério era estudante de direito. Não era bonito, mas o que lhe faltava em beleza lhe sobrava de simpatia e amizade. Não era rico. Trabalhava em uma Pett-Shop de dia e estudava a noite. Era bem visto pelos professores e pelos colegas de classe. Sempre pronto a ajudar a quem lhe pedisse ajuda. Quando ela o conheceu foi ódio à primeira vista. Ele representava tudo que ela odiava. Mas com o passar do tempo, o ódio virou paixão. Paixão doentia. De todas maneiras Millena o tentou. Com seu corpo, com dinheiro, roupas caras. Mas caráter não se compra.
O tempo passou e Millena. Não teve seu desejado brinquedo. E a formatura chegou. Rogério se formou com honras. Importantes escritórios de advocacia já o disputavam. Millena também se formou. Sem honras apenas se formou (ela trepou com os professores certos e seu pai, pagou as pessoas certas). Na noite do baile de formatura, millena estava radiante, seu pai lhe presenteou com um caríssimo vestido de um grande estilista paulista. Todos a olhavam com admiração, inveja, raiva e desejo. Seu cabelo negro caia sobre o ombro esquerdo. Assim que entrou no salão uma legião de apaixonados a seguiu. Sempre prontos a realizar o menor de seus desejos. Tudo estava perfeito. Mas algo a incomodava. Onde estava Rogério? Ele tinha que vê-la. Tinha de ver o que desprezava. As horas passaram e Rogério finalmente chegou. Vestia um elegante smoking (alugado) ao seu lado uma garota que ninguém conhecia. Linda, com longos cabelos ruivos que pareciam estar em chamas. A visão de Rogério com outra garota a fez perder a posse. Millena foi tomada de uma raiva descontrolada e irracional. Mas ela não daria o braço a torcer. Não, não ali. Ela odiava barracos. Mas ela tinha que se vingar. Ele tinha que pagar. Durante todo o baile professores e amigos elogiavam a elegância de Rogério e a beleza de sua bela acompanhante. Ela apenas observava e pensava: “Como”.Como um animal acuado, Millena andava para um lado para outro. Ate que viu uma coisa que fez seu sangue ferver. Rogério trocava caricias com a misteriosa ruiva. Não! Ela não podia tolerar isso. Ela! É que tinha que estar ali, Ela! Que deveria usá-lo e depois jogá-lo fora como um brinquedo velho. Lágrimas de ódio rolaram pelo seu belo rosto. Apesar da raiva, Millena não consegui pensar em nada.
Os primeiros raios de sol começam a dar sinal de vida. Formandos cansados. Deixam o salão. Millena sentada em um canto qualquer, já começava a aceitar a derrota. Quando no fundo do salão ela vê sentado em uma mesa distante à ferramenta de sua vingança. Paulo. Paulo era o típico nerd chato. O cara que sempre responde as perguntas do professor com ar de superioridade. Que puxa o saco de qualquer professor desde que ganhe alguma coisa. Millena se recompõe e vai ate ele.
Paulo não entende porque a garota mais bonita do mundo está falando com ele. Parecia um sonho. Ela parecia triste. Ele pergunta se pode ser útil de alguma forma. Ela chora, diz que esta triste. Ele diz que ela pode se abrir com ele. Millena pergunta como ela não tinha conhecido um cara tão legal antes. Paulo mal consegue se conter de felicidade. Em vinte minutos Millena conta sua triste historia. De como foi usada por Rogério, de como acreditou em suas juras de amor que por causa delas se entregou ele. E que agora ele não queria saber mais dela. Como um cavaleiro andante, Paulo levantou-se da mesa prometendo restaurar a honra da pobre donzela. E saiu. Millena disse apenas: “Me liga”.
Três dias se passaram. Numa manha ensolarada de domingo, Millena toma seu café da manha, ouvindo o noticiário. Queria saber a previsão do tempo. Quando o locutor da a seguinte noticia:
“Jovem advogado Rogério Santos, foi encontrado morto em seu apartamento. O jovem advogado estava de malas prontas para o Canadá. Onde iria trabalhar em uma grande firma de advogados. O suspeito Paulo Coimbra cometeu suicídio”.
Pronto. Ela estava vingada. Tudo saiu melhor que o previsto. Se Rogério não fosse dela, não seria de mais ninguém. E não teria que se preocupar com o gordo nojento do Paulo. Ligando para ela (embora tenha trocado o celular no mesmo dia) o dia passou sem mais novidades. A noite foi dançar numa seleta casa noturna. Na pista, onde ninguém podia ver, ela ria e chorava ou mesmo tempo. Ela bebeu, usou drogas, fez sexo oral em um desconhecido e dançou ate seus pés doerem. Mas já a altas horas, a noite perdeu a graça. Queria ir embora. Usou de sua beleza e saiu sem pagar. Seu carro não estava longe, apenas a alguns metros. Ela caminhava descalça seus pés doíam muito isso a deixava irritada. Quando chegou no carro, uma voz sai da escuridão.
- Por favor, moça bonita. Ajude está velha. Tem dias que meu gatinho e eu não comemos nada.
Millena olhou para a velha senhora a sua frente. Apesar de ser uma sem-teto, não estava mal trapilha em cheirava mal. Mas seu coração era negro e frio. E num ato pensado Millena abriu a porta do seu carro importado com tamanha força que jogou a pobre senhora nos arbustos do prédio em frente. Sem dizer uma palavra a sem teto ajeitou a roupa e o chapéu de abas largas que usava e me apanhou do chão (eu era apenas um filhote) com o rosto escondido na sombra da aba do chapéu e velha senhora ficou parada imóvel. Millena não entendia o porque do silencio. “Suma da minha frente Velha” Disse Millena.
Foi quando a velha senhora, a sem-teto que apenas pedia ajuda ergueu o dedo em direção a Millena, e com uma voz que parecia que vinha das profundezas do inferno disse apenas uma palavra.
- Podre.
E do mesmo jeito que apareceu, desapareceu nas sombras da noite.
Então uma nuvem negra trouxe trevas para o mundo perfeito de Millena. Seu pai um rico empresário faliu. Para pagar dividas vendeu tudo o que podia até seu lindo carro importado. Sem contar à casa que ela tanto odiava. Seus preciosos tesouros roubados pelos empregados. Seu mundo desabou quando seu pai “desapareceu” junto com uma conta bancaria secreta. Deixando a sua amada filha para traz.
Um apartamento no centro. Era onde sua mãe morava antes de se casar. Ela nunca ligou para ele era muito pequeno. Apenas quarto sala e banheiro. Agora este e seu mundo. Mas ela não se daria por vencida. Tinha perdido tudo, mas tinha uma coisa que os credores não podiam levar. Sua beleza. Agencias de modelos famosas já a disputavam a peso de ouro. Sim. Essa era a saída. Sua beleza.
Fez algumas ligações, reencontro contatos. E acertou tudo. Tinha ganhado uma chance. Mas na noite anterior a entrevista, Millena notou uma pequena ferida em sua barriga. Millena não apareceu para a entrevista. O tempo passou e ninguém mais se lembra da linda morena de cabelos negros.
Cresci, sou um gato adulto. E sou a única criatura que sabe o que houve com Millena. Sempre que passo pela vizinhança, paro na janela e a observo por horas. Quer saber o que houve, eu conto. A ferida se espalhou pelo seu lindo corpo. E não cicatrizam, estão sempre abertas. O cheiro de carne podre enche o quarto. Sua pele outrora morena e linda, hoje é cinza e opaca. Seus belos seios murcharam e dos mamilos escore uma coisa que não tenho coragem de dizer. E seus cabelos. Ah... Seus cabelos negros. Agora estão espalhados por todo apartamento. Agora só tem uma coisa na cabeça de Millena. Feridas. E larvas de moscas. Seu lindo sorriso agora esta na pia do banheiro.
Por diversas vezes Millena tentou se matar. Cortou os pulsos com uma lamina velha, tomou veneno. Tentou quase tudo só não se atirou da janela porque suas pernas já não a obedecem mais. Esta presa na cama. Apesar disso tudo ela continua viva. Ate a morte a despreza.
A única coisa que traz um pouco de paz para Milliena é um Cd do David Bowie. Que ela só comprou porque Rogério gostava. Mas tinha uma musica que realmente a agradava. Abolute Beginners. E que agora escuta sem parar.



MH: Se você se identificou, é melhor tomar cuidado. A velha senhora pode estar na esquina.

Recados.


“Biiiiip”
- Oi. Não estou em casa. Se você for gostosa deixe seu recado. Mas se for baranga não ligue mais.

Era assim a mensagem da secretaria eletrônica de Miguel. Ele gostava desse tipo de coisa. Era melhor ser direto. Do que enganar. Miguel é o típico gostosão. Boa pinta e bom de cama. Como o tempo ele descobriu que isso poderia ser um ótimo ganha pão. Ela trabalhava em um escritório de cobranças. Nas proximidades da Praça da Republica. Ele até que gostava de lá. Mas ele queria mais. Miguel tinha o pior dos defeitos. Inveja. Queria ter o mesmo que os patrões, mas ganhando salário de fome. Impossível. Com sua carreira paralela, deixou o escritório e passou a se dedicar a outra profissão. Passava o dia na academia. Um amigo lhe arrumou uma “vaga” no parque Trianon. E ali passava suas noites. Suas preferidas eram as coroas carentes. Arrancava delas o que queria. E estava sempre ganhado presentes. Era um ótimo ator. Ouvia seus problemas e fingia que se importava com elas. Nem todas queriam sexo, apenas um pouco de atenção. A atenção que o marido dava para a amante ciliconada. Mas isso não era problema dele. Como o tempo Miguel fez um ótimo pé de meia. Conheceu o mundo as custas de abonadas senhoras carentes. Seu serviço era muito procurado. Seu telefone não parava de tocar.

“Biiiiip”
- Alo, Miguel sou eu. Por favor, me liga. Você sumiu. Sinto sua falta.

Esse era o tipo de recado que Miguel mais odiava. Velhas grudentas são um pé no saco. Ele deixava claro que era apenas profissional. Não queria envolvimento. Não queria complicação com marido corno. Morava em um apartamento na Bela vista. Poderia ter se mudado para um lugar melhor, mas tinha raízes ali. Assim Miguel seguiu sua vida. Mar de rosas.
As noites de sexta eram as mais lucrativas. Não atendia só as coroas abonadas dos jardins. Respeitáveis senhores engravatados, esses eram o alvo. Mas alguma coisa saio errado naquela noite. Seu celular tocou. Uma cliente nova. Isso era bom. Ele atende. Flat nos jardins, é claro que ele iria. Não demorou muito e lá esta ele pronto para executar mais um serviço bem feito. Mas uma coisa sempre o incomodava com clientes novas. Podiam ser velhas múmias com dentes amarelos. Mas dinheiro é dinheiro. Passou sem problemas pelo saguão e entrou no elevador. Pronto lá estava ele. Tocou a campainha. A porta se abriu lentamente. Ele sempre respirava fundo nessa hora. Mas para sua surpresa, quem abria a porta não era a velha munia que ele esperava.
- Miguel? Por favor, entre.
Por essa ele não esperava. Apesar da nova cliente aparentar estar na “casa dos quarenta”, era linda. Cabelos e olhos castanhos e o melhor, corpo perfeito.
Miguel entrou no apartamento. Ele estava acostumado a ser atacado. Isso não era problema. Quanto mais rápido acabasse Mas desta vez foi diferente.
- Como vai, Você foi muito bem recomendado sabia?
Sua voz era voz era calma e agradável.
- Por favor, Sente-se. Quer tomar alguma coisa?
Miguel não sabia o que fazer. Ela se apresentou. Joyce. Era seu nome. Durante muito apenas conversaram. E riram. Miguel trepava com suas clientes. Mas com Joyce, ele fez amor. O dia nasceu. Miguel nunca dormia nos flats. Mas desta vez não se importou. Acordou do lado de Joyce. E ficou velando seu sono durante algum tempo. Quando ela a acordou, novamente fizeram amor. Tomaram café da manha juntos. Mais tarde se despediram com um caloroso beijo. Beijo de namorado. Esse programa ele não cobrou e ficou envergonhado quando Joyce insistiu. Afinal trabalho é trabalho. Depois daquele dia, se viram muitas vezes. Miguel violou o principal mandamento dos profissionais do sexo. Apaixonou-se por uma cliente.
Miguel largou a prostituição. Joyce se oferece para ajudá-lo. Com orgulho recusou. Tinha uma boa reserva. Voltou para a faculdade que um dia abandonou. Seis meses se passaram. Agora eram namorados. E iam viajar juntos pela primeira vez. Miguel planejava pedir Joyce em casamento.

Segunda-feira.
12:00.
“Biiiip”
- Querida. Sou eu, já comprei as passagens me liga. Te amo.
12:35.
“Biiiip”
- Onde você esta que não me liga de volta. To esperando.
13:02.
“Biiiip”
- Cadê você amor? To ficando preocupado.

Miguel não entendia ao que poderia estar acontecendo. Joyce nunca deixava de responder seus recados. Deve estar ocupada. Ele não ligaria mais. Ela poderia estar em reunião. Sim. É isso. Ela esta em reunião. Ela sempre lhe contava de como eram chatas e longas essas reuniões com os gringos.
- Vou deixá-la em paz.

19:05.
“Biiiip”
- Querida. Eu de novo. Assim que der me liga. Beijos.
19:40.
“Biiiip”
- Joyce está tudo bem. To preocupado me liga assim que chegar em casa. Te amo.

Miguel não sabia o que era aquele sentimento que fazia seu coração doer. A preocupação deu assas a sua imaginação. O que poderia esta acontecendo? Será que ela foi assaltada? Ou pior se foi atropelada e sta em algum hospital precisando da minha ajuda. Não! Isso é loucura. Ela esta bem. Ela é uma mulher importante tem muitas responsabilidades, não pode viajar assim. É isso. Logo ela vai me ligar.


Terça-feira.
24:05.
“Biiiip”
- Querida. Por favor, se estiver em casa. Atenda ao telefone.
01: 07.
“Biiiip”
- Querida. Estive pensando. Se eu fiz alguma coisa de errado, por favor, me perdoe.
01:45.
“Biiiip”
- Cansei de esperar. Vou dormir. Pense melhor e me ligue. Pelo menos para me xingar. Te amo.


Mas Miguel não dormiu ficou virando na cama. Ficou pensando se realmente teria feito algo errado. Algo que a deixasse nervosa a ponto de não querer falar com ele. Ele pensou e pensou. E nada veio a cabeça. Ele não tinha culpa de anda. Novamente a imaginação ganha asas. O que teria acontecido. Será que ela sofreu um acidente. Teria caído da escada. E estava lá no escuro ferida. Quase morta. Ele tinha que saber a verdade. Pegou o carro e foi ao prédio em que ela trabalhava. Inútil. Quase foi preso. Voltou para a casa. Passou em uma banca de jornal. É isso! Jornal. Se tiver algum atropelamento ou acidente grave, estaria no jornal. Folheou pagina por pagina diversas vezes e nada. Joyce desapareceu. Pensou ate em seqüestro. E se ela era casada e o marido descobriu. Sim, pode ser isso e se for? O que fazer? Não! Ela não era casada ele saberia. E se ela conheceu outro cara e mudou de idéia sobre nos?


08:20.
“Biiiip”
- Atenda ao telefone querida. Por favor.


Assim foi por uma semana recado após recado. Ele já não queria mais ligar. Ela o abandonou. Não fazia Idea o porque, mas o deixou. E agora como seguir com a vida. Tudo estava traçado. Planos feitos, mas com ela ao seu lado não queria voltar à prostituição. Estava cansado daquela vida. Andou pela casa. Olhava lá para baixo e pensava que seria uma saída rápida. Não, daria trabalho para o zelador raspá-lo da calçada. No seu aniversario, Joyce lhe deu uma navalha alemã do século. XVIII. Uma obra prima. Apesar dos anos, ainda mantinha o poderoso fio. Ele já ouvira a receita em algum lugar. Bastava encher a banheira de água quente. A morte vinha calma e indolor. Como o sono. Sim essa era a saída. Não queria ficar sem ela.
Miguel encheu a banheira de água o vapor tomou todo o banheiro. Com dois rápidos movimentos Miguel cortou os pulsos com a navalha. É verdade. Realmente não dói nada e a sensação e de conforto. Ele vai se deixando levar pelo sono. Ele sabe que é a morte chegando. A água agora e rubra e não tem mais volta. Na sala ele ouve o telefone tocar.

“Biiiip”
- Querido sou eu. Desculpe se não dei noticias. Tive que viajar a negócios e esqueci o celular em casa. A viagem ainda esta de pé? Te amo. Tchau
Foi a ultimo recado que Miguel ouviu Andes de fechar os olhos pela ultima vez.



MH: Paciência é uma virtude que nem todos possuem.

A Dama Branca.


- Aqui gatinha! Venha, Charlotte trouxe sua comida.
Era assim que minha Senhora chegava em casa todos os dias. Parece estranho “Minha senhora” sei disso. Mas quer saber! Não me envergonho em dizer que tenho um mestre. Desde que ela me achou no fundo de um bueiro, nada me faltou. Tenho tudo que uma gata pode querer. Mas infelizmente não posso dizer o mesmo sobre ela. Ludmila era assim que ela se chamava. Todas as tardes quando ela chegava em casa, não era eu que ela gostaria de achar. Seu sonho sempre foi ter marido e filhos. Família. Mas tudo que ela achava era uma gata de olhos azuis. Mas nem por isso ela me tratou mal um dia se quer. Eu era sua amiga e confidente. Enquanto preparava o jantar, ela me contava de como tinha sido o seu dia. De como o babaca do chefe a explorava, de uma amiga que sofrera assedio no elevador e de como ela agiria se fosse com ela. Eu apenas ouvia tudo atentamente.
Durante todo o dia o barulho e quase insuportável. Mas quando o minhocão fechava, era um silencio. Apenas o barulho de carros e sirenes ao longe. Eu ficava na janela ouvindo os barulhos noturnos. Por varias noites eu a vi chorando debaixo do lençol. Não gostava de vê-la chorando. Ludmila não era uma mulher feia. Mas os homens não viam nada nela alem da bunda. Que segunda ela mesma, era a única coisa boa que ela tinha depois do cérebro. Ludmila tinha uma Tv., mas nunca a ligava. Gostava de passar seu tempo lendo e ouvindo musica. A sala era uma filial de um sebo qualquer. Livros por toda à parte. Seus autores prediletos eram: Fernando pessoa, Edgar Allan Poe e Oscar Wilde. Perdi a conta de quantas vezes ela recitou O Corvo. Para mim.
Algumas semanas atrás, ela chegou diferente. Seus olhos tinham um brilho estranho. Pela primeira vez em anos, ela chegou em casa e não gritou por mim. Foi direto para o aparelho de som e tirou o Cd do Joy Dvision que mais gostava e o que mais ouvia.“Decades”. No lugar. Uma musica alegre. Ela cantarolava pelos cantos. Até que lembrou de mim.
- Desculpe Charlotte. Não vi você ai. Aqui esta seu jantar. E saiu da cozinha como se estive deslizando no ar. Tomou banho, mas ao contrario de todas as noites. Ela não pegou nenhum livro para ler na cama. Pegou no armário um lindo, porém discreto, vestido florido se arrumou como nunca. E viu no espelho uma mulher que ela nunca imaginou ser.
- Gatinha, não me espere acordada. E saiu trancando levemente a porta. Não sei quanto tempo se passou. Mas acordei com um leve barulho na maçaneta da porta. Ludmila entrou. Atrás dela uma figura se escondia nas sombras. A sala se encheu de luz. A figura tomou forma de uma garota. Não mais de vinte anos loira, muito bonita. Cabelos longos. E olhos claros. Dei uma volta pela casa. Esticar as pernas. Quando voltei para a sala encontrei as duas nuas no sofá, trocando beijos e caricias. Nunca entendi o porque disso, mas elas que são humanas que se estendam. E se ela esta feliz isso é que realmente importa.
Os primeiros raios de sol deixam o céu em tons degrades. Eu acordo. Elas estão na cama. Dormem abraçadas. Bonito ver. Agora não a mais choro e tristeza. Um ano se passou desde que Andréa chegou. Não escuto mais recitar de poemas, não escuto mais Dead can dance e Joy Division. Mas em compensação. Agora escuto piadas e risadas. A casa que outrora era escura e fria agora não passa um dia que as janelas não sejam abertas durante todo o dia. Ludmila saiu da agencia de turismo que trabalhava. Mas antes de sair foi à sala do babaca do seu chefe, abriu a porta e gritou para que todos pudessem ouvir.
- Foda-se se Babaca escroto!!!!!
Tudo estava indo bem. Ludmila e Andréa montaram uma grande Pett-Shop. Aqui mesmo no centro. Assim como Ludmila, Andréa também gostava muito de mim. Diziam que eu era a “filhinha” delas. Aos sábados, o apartamento ficava cheio de gente. Nunca pensei que alguns humanos pudessem ser tão legais. Eu ficava no meu canto. E ouvia sobre quase tudo. Sexo, Cinema, quadrinhos, musica e todo tipo de arte.
Mais um ano se passou. E ainda me lembro daquele sábado. Andréa não acordou bem. Tossia muito. Juntas foram ao medico. E por horas Ludmila esperou e esperou. Ate que o medico deu a noticia. Andréa era soro positivo. Uma lembrança do idiota do ex-namorado. Mas isso não abalou o amor que existia entre as duas. Pelo contrario isso fortaleceu ainda mais o que existia entre elas. Mas o tempo passou e a doença é implacável. E numa fria tarde de Outono, Andréa... Partiu.
Eu confesso. Chorei por elas.(E se contar isso a alguém, eu nego) chorei pela saudade que eu sentiria de Andréa, chorei por Ludmila que perdera uma parte do coração. Agora tudo mudou. O apartamento não tem mais vida, voltou a ser frio e escuro. Amigos batiam na porta. Mas Ludmila se recusava e ver viva alma. Eu mesmo me mantive afastada. Eu respeitava sua dor e seu luto. Os negócios iam bem, mas sem Andréa não tem mais graça, perdeu o sentido. Eu ainda me lembro das noites que Ludmila passava chorando. Chorando por algo que ate então nunca tinha experimentado. Agora ela chora pelo amor que perdeu. A dor é muito maior. As semanas passam e ela já não vive apenas “vegeta” ela ainda trabalhava. A pett-shop era o sonho de Andréa. Fora isso tudo tinha voltado como era antes não tinha mais Tv. Ela trazia boas lembranças. Isso doía. O velho Cd estava de novo no aparelho de som. Com o tempo Ludmila. Começou a ser perturbada pelo fantasma de Andréa. Qualquer barulho no corredor, Ludmila saia correndo para abrir a porta.
- Esqueci de tirar o trinco da porta de novo. Andréa vai ficar brava.
Mas só havia uma coisa no corredor. Escuridão. E nada mais. Voltava para a cama e fica esperando que Andréa batesse a porta.
Aquela tarde eu sai. Fui para o telhado. Fiquei algum tempo pensando nos humanos e suas vidas breves. Superiores e tão frágeis. Quando voltei para casa, notei a porta aberta. Estranho, Ludmila nunca deixa a porta aberta. Como e de nossa natureza, entrei. Mas muito desconfiada. Tudo estava normal. Nada estava faltando. Andei por toda a casa. A chamei algumas vezes.(Miaaaaau) ate que entrei no banheiro. Respirei fundo. E só me veio uma coisa: ela não agüentou. Pobre menina. Pendurada no cano do chuveiro. De novo eu chorei (já sabe) fiquei ali, parada no chão frio olhando, olhando, olhando. Então fiz uma coisa que nenhum outro gato vez por um humano. Rezei a Deusa Bastet. Para que conduzisse em segurança pelo reino dos mortos.
Voltei para a sala. Então a vi entrar pela porta. A Dama Branca. Uma garota. Não aparenta mais que dezessete anos. Pele branca e cabelos negros. Olhar de menina sapeca. Vestia uma calça de couro e camiseta preta que deixa um decote generoso.
- Oi Charlotte. Tudo bem.
Abaixei a cabeça em sinal de respeito. Ela é a única coisa que nos iguala aos humanos. Um dia todos nos iremos receber sua visita.
Ela entrou no banheiro de lá saíram. Ludmila e a Dama Branca.
- Vamos Ludmila. O caminho é longo e ainda tenho muito que fazer.
- Posso me despedir?
- Claro! Mas não demore.
- Desculpe gatinha. Eu não tive força. Não estava dando. Viver sem ela já era a morte. Fique em paz e seja feliz.
- Tchau. Gatinha a gente se vê por ai.
Ao som de poderosas asas, vejo as duas desaparecerem. Agora estou livre e só. Ouso vozes lá em baixo no beco. Vou ate a janela.
- Hummmm. Quem será o gato preto com o tigrado. Vale a pena descer e conferir. Quem sabe...

MH: Quem é a Dama Branca? Não se preocupe, um dia você vai conhecê-la.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

A Santa do Arouche.


Dona Leonor é uma velha moradora do Largo do Arouche. Mora lá desde os áureos anos 50. Quando se mudou para lá tudo era mais bonito, tudo era limpo e seguro. Mas ela adorava aquele lugar. Nunca sairia de lá. “Quero morrer aqui” dizia ela sempre. Reza uma lenda local que na juventude, Dona Leonor era Linda. Que muitos caíram de amores por ela. Mas ela só tinha olhos para o marido que a muito se foi. Dona Leonor é esse tipo de senhora de cabelos azuis e camafeu no pescoço. Sempre impecável e apesar da idade quase oitenta anos, se mantém ereta e altiva. Uma mulher das antigas. Ainda mantinha a velha educação e os bons costumes tanto que os moradores do prédio que moramos a elegeram sindica. E desde que foi empossada, o prédio é um primor. Sempre limpo, as contas em ordem. Não admitia Barulho nos corredores. Tudo no prédio era perfeito
D. Leonor tinha um hobbie, gostava de ajudar pessoas. Se você tem um problema, conte com ela. Ela vai ajudar. Principalmente meninos de rua e os sem teto da região. Restaurantes famosos sempre ofereciam ajuda financeira. Saia barato.Melhor do que perder fregueses importantes. Mas ela nunca aceitava. Era apenas ela e a neta Lenora. Uma moça linda de cabelos negros. Mas raramente vista. Sempre que perguntavam dela, D. Leonor respondia: “A faculdade toma todo o seu tempo. Vai ser uma ótima doutora”.
Desde que começou seu trabalho com os mais carentes, sempre teve êxito, tirou muitas crianças das ruas e consegui lar para muitos dos sem teto que ela ajudava. No fundo todos se perguntavam como ela conseguia isso. Não é fácil conseguir abrigo para tanta gente. Mas se saíssem de suas portas, estava ótimo. Durante algum tempo o largo do Arouche não teve um sem teto ou um menino de rua para sujar a rua e usar suas portas como latrina. Ate que num domingo chuvoso apareceu no banco da praça uma adolescente. A noticia chegou aos ouvidos de D.Leonor que rapidamente a recolheu do frio e da chuva. Uma coisa chamou a atenção de D.Leonor. A garota era resultado da mais inusitada miscigenação. Filha de pai japonês e mãe negra. Uma mulata nisei. Parece estranho eu sei. Mas acredite, ela é linda.
Mas os moradores do prédio. Viam apenas mais uma criança de rua. Que deveria ser conduzida ao abrigo o quanto antes. Mas D. Leonor tinha um jeito especial de convencer as pessoas a aceitar suas ordens Em poucos minutos. Agora todos concordam que D.Leonor de os primeiros cuidados a jovem desamparada. Já no calor do amplo apartamento de D.Leonor, a bela garota olha em volta. Tem cheiro de chá e a mobília é antiga. Recuperada a garota conta sua historia. Seu pai era comerciante de peixes no mercado municipal. Tinha uma grande Box. Sua vida era ótima. Um dia o pai descobriu que a mãe o traia com um de seus funcionários. Mas não tomou uma providencia que pudesse ferir alguém. Mas naquela noite quando voltava para casa, foi morto num “misterioso assalto”. O corpo do pai ainda estava quente quando a mãe trouxe o amante para dentro de casa. E em pouco tempo tomou conta da casa e do negocio do pai. Uma noite ela viu a porta de seu quarto abrir e viu Seu “padrasto” entrar lentamente. Ela fingiu dormir. Ele se aproximou da cama e começou a acariciar seu corpo. Sentiu suas mãos tocarem seus seios e seu sexo. Queria gritar, mas tinha medo do pior. Desde daquela noite, tem vivido na rua.
- Não tema. Esta a salva agora. Sorria D Leonor.
Eu dormia num sofá próximo. Quando D.Leonor se aproximou e me pegou no colo.
-Conhece meu gato? O nome dele é Ragamuffin. Se quiser somos sua família agora. Eu tenho uma neta mas e difícil ela parar em casa. Estuda muito. Eu estou sempre só. Agora podemos fazer companhia uma a outra se quiser. E ela aceitou.
As semanas passaram e a bela Érika, estava totalmente renovada. Agora ela morava conosco. Os outros moradores nunca reclamaram de sua presença no prédio. Como se ela fosse moradora antiga. Ela ajudava D Leonor como podia. Arruma a casa mesmo sabendo que isso irritava. “Não é minha empregada. Não precisa fazer isso”. Dizia ela. Não reclamava das noites que passava sozinha. D.Leonor estava ocupada ajudando os outros. Assim se passaram seis meses. Então numa noite escura sem lua todo mudou. A jovem Érika. Acordava sempre cansada e tinha pesadelos horríveis. Por outro lado minha senhora agora gozava de uma incrível energia. Ela tinha encontrado a mais pedrosa fonte de energia que uma velha vampira poderia querer. Uma virgem. Seu sangue era puro, doce e sempre que se alimentava sua libido aumentava. Ela voltou a pensar em coisas que a muito tinha esquecido. Não era como o sangue dos indigentes que ela “ajudava” ate pelo contrario. Dava um puta trabalho sumir com os corpos depois. Mais eram perfeitos. Quem liga para esse tipo de pessoa. Sangue farto sem levantar suspeitas. Para olhares curiosos todas estavam bem em seus novos lares.
Muitas vezes a vi se alimentar da jovem. Quando isso acontecia. Minha senhora mudava. Seus cabelos azuis escureciam, sua pela velha rejuvenescia e dava lugar a uma pela branca, lisa e quente ao toque. Seu rosto tomava de volta a beleza que a muito escondia. Assim D. Leonor desaparecia e em seu lugar surgia a bela Lenora. Sim. Lenora e D.Leonor eram a mesma pessoa.
Agora. Deixe-me explicar. Minha senhora é o segundo Vampiro mais velho sobre a terra. Só perdendo para o Vampiro Alfa, Caim. Sim, esse mesmo. Os séculos lhe deram habilidades que outros vampiros não possuem. Ela pode caminhar por breves períodos a luz do dia. Ela chegou no Brasil, no porão do primeiro navio negreiro que desembarcou por aqui. E tem vivido todo esse tempo às escondidas. Para não levantar suspeitas de sua presença resolveu se esconder em uma pele de velha. Assim mudando sempre, ninguém jamais desconfiaria. Mas agora isso tinha acabado o sangue especial que ela tanto esperou tinha vindo bater a sua porta. Uma virgem. Fruto de curiosa miscigenação.
A noticia que corre nos corredores do prédio agora, é a viagem que a Santa do Arouche vez. Mas sua bela neta ainda esta no apartamento. Ela e a bela protegida de D.Leonor. Mas são raramente vistas. Estudam muito comentam os mais curiosos. Mas só eu sei. A jovem Érika e a bela Lenora, são amantes. Que a jovem Érika agora faz parte do mais seleto dos clãs. O dos vampiros. Juntas, elas caçam na noite de São Paulo. Nada escapa da voraz sede de sangue. Seu lugar preferido é a região da Rua Augusta e a boca do lixo. Chega de meninos de rua e desabrigados. Agora, só sangue de executivos. Quanto ao “padrasto” bem... Agora nada mais é que um escravo. Ele toma conta delas quando o sol esta no céu. Mas nem tudo tem um final feliz. Eu não sou mais necessário. Elas têm uma a outra. Agora não tenho mais mestre sou livre. Poso correr pelos telhados. Uma noite dessas, eu as vi. Aqui perto do beco. Alimentavam-se de um rico e gordo executivo. Que provavelmente ligou para esposa dizendo que iria trabalhar ate tarde. Eu vou seguindo minha vida. Fiquei sabendo que outro vampiro visita uma jovem aqui perto quem sabe ele não quer um gato.



MH: Se encontrar uma bondosa senhora de cabelo azul ou duas belas jovens, cuidado pode acabar mal.

sábado, 19 de maio de 2007

O Visitante.

Entardecer de Outono. Ao longe o céu parece ser um grande mar de fogo. O vento morno acaricia meu pêlo. Dois andares abaixo, alguém escuta “Absolute Beginners” sem parar. Não me importo, gosto de David Bowie. Observo os carros passando lá em baixo. Atrás de mim, um rato tenta se esconder. Não tenho fome, deixo ir. Ainda é cedo, vai demorar ate ele chegar. Gosto de ficar aqui em cima. Longe dos humanos e livre dos carros. Aproveito o tempo e fico olhando através das janelas abertas. É divertido. Somente em seus lares os humanos são o que realmente são ou pelo menos o que gostariam de ser. Um respeitável senhor se masturba olhando revistas de homens nus. Enquanto sua esposa prepara o jantar. Em outra janela uma garota com afinidades religiosas, dança nua em frente ao espelho, imaginando uma platéia ávida por seu corpo.
- Gosta de observar os humanos?
Olho para o lado e vejo um velho gato de rua. Gato sem nome.
-Sim, eles são engraçados. Respondo olhando para baixo.
- Espera por alguém? Me pergunta o gato sem nome enquanto lambe a pata.
-Desculpe...
-Sim, vi você por aqui. Sempre na mesma hora fica aqui sentado olhando para as janelas. Não é comum para um nossa espécie. Isso é típico dos humanos. Olhe, estou indo ate a rua de traz. Meu mestre trabalha em um restaurante japonês. Sempre tem peixe fresco. Quer vir comigo?
- Não. Obrigado.
-Ora deixa disso. Ele não vem agora, vai demorar.
- Como sabe que espero por ele?
-Todos nos sabemos que a garota que mora no prédio em frente recebe visitas noturnas. Você é o único gato que eu conheço que para ver. Então...
Olho para a janela e para o céu ainda esta cedo. Ele tem razão. Então aceito.
-Você tem mestre? Não parece.
-Na verdade não. Mas o humano gosta de nos. Sempre que apareço ele me da comida. Prefiro caçar, mas peixe fresco, Hummmm... Impossível recusar.
- E você meu amigo. Tem mestre?
- Já tive. Mas isso tem tempo.
- Quer falar sobre isso? Sou um bom ouvinte.
Com um gesto de cabeça respondo que não.
- Você é quem sabe. Aqui. Chegamos.
Olho para o beco abaixo. É verdade. Um humano espera pelo sem-nome.
- Aqui. Bichano. Grita olhando para cima.
- Venha garoto esta tudo bem.
Com três saltos estamos na calçada do beco. O humano brinca com o sem nome. Eu apenas observo. Quase com saudade de ter um mestre que acaricie meu pelo.
- Agora você e seu amigo se comportem. Se souberem que dou peixe fresco a vocês estou perdido. O humano entra e fecha a pesada porta de madeira.
Mais uma vez o sem-nome esta certo. Não se rejeita peixe, principalmente fresco. E a corrida ate aqui me abriu o apetite.
-Ora, vejam só. Amigo novo?
Das sombras vejo surgir uma gata de pelo cinza e grandes olhos azuis.
-Seja bem vinda Charlotte, fugiu do seu castelo?
-É... Sempre que posso dou escapada. me diga, quem é seu amigo?
Eu a observo enquanto ela anda em volta de mim. Impossível não deixar se levar por seus olhos.
- Rafamuffin. Respondo sem para de comer meu peixe.
- Bonito, mas sem nenhuma educação.
Ela me acha bonito. Que bom, quem sabe podemos nos entender melhor mais tarde. Mais gatos sem nome saem de traz da caçamba de lixo. Droga, não queria brigar.
-Calma... Garoto todos são amigos aqui. Pode comer seu peixe.
Vergonha.
- Hei. Tigrado quem é o garoto, seu novo aprendiz?
Aprendiz? Porque diabos acham que sou aprendiz desse velho gato sem nome.
- Não. É apenas um novo amigo. Deixem o garoto comer em paz. Mas. Digam-me, o que fazem por aqui? Tão Longe de seu território?
- Desculpe tigrado. Não queríamos invadir seu território. É que aquele humano idiota soltou o pitt-Bull no telhado do nosso prédio. Toda noite tem sido assim. Ele o solta o cretino para nos caçar. Noite passada ele pegou o bolinha, pobre filhote. Não foi uma coisa bonita de se ver.
- Humanos desgraçados.
Desabava a gata de olhos azuis.
Por horas ficamos conversando. Mais irmãos apareceram, todos com vidas e historias distintas. Algumas revoltantes outras engraçadas. Ouvi sobre a lenda dos mil gatos e de lugares míticos onde nos gatos somos a espécie dominante e os humanos reles servos.
- A lua está alta. Melhor irmos. Não quer perder seu show, quer?
É verdade, havia me esquecido completamente. Nunca pensei que conversar com outros gatos seria tão prazeroso.
- Sim é verdade tenho que ir. Obrigado a todos.
- Não por isso. Apreça sempre que quiser. Me convida a gata de olhos azuis.
O Painel de néon da boate em frente, da sinal de vida. Trazendo luz ao beco escuro. Enquanto todos pragejavão, eu pode ver melhor o gato sem nome que atendia por tigrado. Não que nos gatos precisássemos luz para ver. Mas eu estava tão fechado em meu mundo que não vi ou não me interessava ver. Mas agora podia ver com clareza. O gato que todos tratam com respeito. Era enorme, seu pelo era de um tom abóbora com listras cinzas. Suas orelhas eram pontiagudas, bigodes imensos, seu corpo era tomado de velhas cicatrizes e muito forte. Em poucos minutos estávamos onde tudo começou.
-Obrigado pelo peixe e me desculpe. Não sou muito de fazer amigos, por isso pareço arrogante, mas acredite, não sou.
- Não se preocupe. Você é jovem ainda tem muito que aprender. Apareça sempre que quiser. Será bem vindo no beco.
- Obrigado Tigrado.
- Gallore.
- Como?
- Meu nome é Gallore.
Assim Gallore desaparece por entre as caixas d’água e velhos telhados. Eu olho para a janela e agora isso não tem mais sentido. Eu realmente queria estar com os gatos do beco.
Não demora muito e ele aparece na rua. Ele anda calmante, sem presa. Viro a cabeça e ele esta ao meu lado. Um humano comum diria que ele apareceu. Mas ele apenas saltou. Com olhos de sangue ele me olha, ri com o canto da boca e salta para dentro do quarto. A coisa toda não demora mais que trinta minutos agora ele sai pela janela e com muita facilidade escala a parede ate o telhado. Posso ver o sangue escorrer no queixo. Assim como nós ele salta prédio após prédio ate desaparecer na noite.
Olho a janela aberta, alguma coisa me diz: Vai lá ver. Mas resisto à curiosidade e adormeço no mesmo lugar.
Acordo algumas horas depois com o barulho de uma pequena multidão. Olho para baixo e vejo uma ambulância. Dentro do apartamento. Uma senhora grita:
- Mi Hija, Mi Hija.
No corredor, velhas senhoras fofocavam.
- Ésa es la cosa Del vampiro.
Fico parado lá por horas. Homens de uniforme entram e saem do prédio. Das janelas vizinha, olhos curiosos buscam pela desgraça alheia. Uma gota d’água cai em minha cabeça. Chuva. A velha caixa d’água me dá abrigo. Agora faz sentido porque Gallore não deixou que eu ficasse lá no beco, e que eu iria perder o show. Ele sabia que aquela seria a ultima visita do vampiro. A chuva esta passando e meu estomago queima de fome. Será que tem peixe hoje à noite?



MH: Não importa o que. Mas antes de começar qualquer coisa, termine antes o que começou.