domingo, 29 de julho de 2007

Helena e as Criaturas da Noite






Helena nasceu numa sexta-feira treze.
Helena não era como as crianças da vizinhança. Enquanto as meninas da rua brincavam de bonecas, helena ajudava o pai com as ferramentas. Suas preferidas eram as afiadas, principalmente machados e facas. Não foi bem aceita na escolinha. As professoras tinham medo dela. Ela adorava decapitar as bonecas. Principalmente das meninas de cabelos loiros. Enquanto as crianças desenhavam casinhas, arco-íris e outras coisas coloridas, helena desenhava caveiras e cemitérios.
Helena aprendeu a ler como todas as crianças da sala. Mas se recusava a ler os livros da estante. Quando era obrigada, fingia. Mas o que ela fazia, era inventar a sua própria versão. Gostava mais daquela, onde a vitima era o pobre lobo, que acabava sempre sendo retalhado pelo monstro assassino chamado chapeuzinho vermelho. Mais tarde quando a moda era ler romances melosos, Helena gostava de Edgar Alan Poe. Seus animais preferidos? Aranhas e morcegos.
Quando fez sete anos foi para escola pela primeira vez. Odiou tudo e todos. Aquilo não era para ela. Mas sabia que tinha que estar ali. Não fez amigos. Como toda criança, Helena também tinha seus amigos imaginários. Na certa pensou em fadas ou mesmo uma linda princesa. Não... Os amigos imaginários de Helena eram Fantasmas, Vampiros, Monstros, Lobisomens, Zumbis, as criaturas da noite. Eles a entendiam. Eram os seus melhores amigos.
Helena gostava quando sua tia do interior vinha visitá-la. Ficava horas ouvindo as historias de fantasmas que só ela sabia contar. Adora assustar as crianças da rua com as historias que ouvia da tia. Mesmo sabendo que seria punida depois. Mas ela não se importava sabia que teria seus amigos para conversar. Muitas vezes o pai ouviu vozes que vinham do quarto da filha.
Helena adorava assistir filmes de terror. Seus ídolos eram Cristopher Lee e Vincent Price. Por causa deles desenvolveu o gosto por roupas pretas. E total aversão ao sol. O evitava o Maximo possível.
Uma vez, Helena foi com o pai ao Centro. Seu pai era dono de uma confecção. Enquanto esperava o pai, Helena descobriu a Galeria do Rock (isso foi no final dos anos setenta). Ela ainda não conhecia nada de musica. Mas aquele dia tudo mudou. Helena andou por todas as lojas. Viu e ouviu de tudo. Viu os primeiros Punks de são Paulo. Mas o que mais gostou foi às roupas, muitos se vestiam de preto assim como ela. Arrastou o pai para uma das lojas. Queria discos. O pai comprou afinal, ela passou de ano. Quando chegou em casa subiu correndo para o seu quarto. Queria mostrar a sua descoberta para os amigos. Que a esperavam escondidos no guarda roupas. Na sua pequena vitrola, Helena ouviu os discos que ganhou do pai. Ela e os amigos dançaram a noite toda.
Com o tempo, Helena cresceu. Tomou corpo de mulher (apesar de ter apenas dezesseis anos) agora ela tinha amigos. E novos interesses. Mas uma coisa continuava a mesma a sua amizade com suas criaturas da noite. Que agora, saiam com ela, Não ficavam mais trancados no quarto. Juntos se divertiam na noite paulista dos anos oitenta. Ela ainda freqüenta as galerias. Tem muitos amigos por lá.
Durante anos, Helena e seus amigos soturnos riram, choraram, odiaram, compartilhavam todos os sentimentos e segredos, os bons e os maus. Mas a faculdade chegou e com ela a maturidade. Um dia quando chegou em casa, apenas um de seus fantasmas estava lá a sua espera. Ela pergunta pelos outros. O pequeno fantasma responde que se foram. E que ele ficou para se despedir e explicar.
- Você cresceu, não precisa mais de nós. Explicou o fantasma.
Aquilo doeu. Soava como traição e abandono. Mas no fundo do coração, Helena sabia que tinha de ser assim.
- Vou vê-los novamente? Perguntou Helena sem conter as lagrimas.
- Não. Mas não fique triste. Viva sua vida. Com toda a força que puder. E nunca se esqueça de nós. Nós não vamos esquecer de você.
Helena apenas acenou com a cabeça.
- Adeus criança.
Helena levantou a cabeça, enxugou as lagrimas e olhou em volta. Pela primeira vez em anos, estava sozinha no quarto.
Helena se tornou uma grande jornalista. Casou-se e teve uma linda filha. Ainda mora na mesma casa. Seu quarto agora pertence à pequena Maria. Sempre que passa na porta do quarto, Helena ouve vozes, nas não se preocupa. A pequena Maria não esta sozinha.



MH: POR MAIS QUE ISSO DOA, UM DIA TEMOS QUE CRESCER.

4 comentários:

Anônimo disse...

eita conto foda...gostei...meus parabens

Vanessa Meiser disse...

Oiiii tudo bem? Ví seu post na comunidade Eu amo ler e me interessei pelo se blog, vamos fazer uma troca, voce segue o meu e eu sigo o seu, pode ser....
Valeuuuuu
Vanessa
http://leituraspontocom.blogspot.com/

Luna Santos disse...

Oi vi o teu blog na comunidade.
Adorei as tuas histórias e você escreve muito bem, meus parabéns!!
Não tive tempo de ler todas as histórias, mas vou voltar com mais tempo. Legal
Lúcia

Jéssica Lainne disse...

nossa... Adorei, principalmente o desfecho. ^^ Quando der dê uma passada no meu blog e vê se gosta.http://silencioqgrita.blogspot.com/ bj