sábado, 7 de julho de 2007

Necromance



Ele os observa.
Todos os dias eles chegam, alguns normais outros impossíveis de descrever sem causar náusea. Mas para Reginaldo era apenas trabalho. Ele ganhava bem e tinha estabilidade. Para ele já estava ótimo.
Trabalhar no I.M.L, tinha lá seus prazeres. Trabalhava a noite, era assistente (faz tudo) dos legistas. Não tinha chefe chato, e poderia ficar de papo para o ar a noite toda. E não se importava de estar sempre na presença da morte. “Tenho medo dos vivos”.Dizia.
Regis (era assim que gostava de ser chamado) já estava naquele emprego a mais de três anos, e nesse espaço de tempo, nada alterava sua rotina. Mas tudo mudou naquela noite fria de inverno. Já passava das três da manha quando uma suicida deu entrada. Regis era curioso. Gostava de ver os corpos que chegavam. E alem do mais, sempre se podia ganhar um extra. Como? Jóias. Relógios, anéis de ouro, correntes de família. Esse tipo de coisa. Suas vitimas ideais eram as pobres velhinhas. Essas sim davam lucro. Mas essa noite era diferente. Não era uma pobre velhinha. Ele esperou os médicos irem embora. Olhou o corredor. Pronto, estava sozinho com seu tesouro. Ele abre a porta. A luz branca do corredor ilumina a sala escura e gelada. Ele acende a luz. O corpo ainda esta na maca. Ótimo. Ele olha pela pequena janela da porta. Sem excitar levanta o lençol. Uma moça. Talvez vinte e cinco anos. Ele ironiza “Tão nova” ela esta nua. Ela a puxa para mais perto da luz. Agora ele pode vê-la melhor. Uma moça bonita, de longo cabelo castanho. E uma expressão de paz. Seus lábios são vermelhos, e sua pela e branca. Seu corpo ainda conserva o calor da vida. Agora ele a olha inteira. Nua em cima daquela maca. Ele ri e faz piada. Espere. Alguma coisa chama sua atenção. Ele a conhece. Sim. Mas de onde? Como um abutre, ele anda em círculos. E pensando, de onde ele a conhecia. Quando sua mente viaja anos no passado. Pronto. Agora ele se lembra. Eles estudaram juntos. Seu nome é Luciana. Sim é isso Luciana. A garota mais desejada do colégio, menos por ele. Todos os seus amigos comentavam, alguns contavam mentiras outro simplesmente criavam fantasias com ela. Ele não entendia o porquê disso. Ok... Ela era muito bonita. Mas ela nunca o atraiu. E por causa disso teve que aturar as piadinhas dos amigos. Agora ela estava lá. Morta e nua. Regis ficou lá parado olhando para Luciana. E pensando como são as coisas. Todos diziam que ela se daria bem na vida. E agora...
As horas passam e Regis desiste de saquear o corpo da bela Luciana. Ele bate o cartão e vai para casa. Mas ele não consegue dormir. Ele se levanta, abre a janela, o sol fere os seus olhos. Suas esposa esta trabalhando ele esta só em casa. Ele anda de um lado para o outro. Fica pensando nos velhos amigos que dariam tudo por Lucina. E só ele teve esse prazer. Prazer. Essa palavra lhe suou diferente agora. Ele vai se deitar. Dorme um sono agitado. Repleto de estranhos pesadelos. Ele ouve a voz de Luciana. Ela o chama, ela pergunta: “Você não me deseja?”. O despertador toca, são cinco da tarde. A cabeça dói. Sua esposa já esta em casa. Há nevoa em seus olhos. A casa esta escura. Um barulho vem da cozinha. Ele balbucia baixinho: Luciana? Não. Era sua esposa que preparava o jantar. Ele não tem fome, seu estômago também dói. Ele se despede e sai para trabalhar.
O metrô esta vazio apenas alguns lugares ocupados. Ele senta na janela gosta de ver as coisas passarem. Isso sempre o acalmou. O trem para. Mais uma estação. As portas se abrem. Poucas pessoas entram. Ele as vê por cima dos óculos. Ele olha em volta. E ela esta lá sentada dois bancos a sua frente. Luciana. Olhando para ele com seus olhos mortos. Seu coração quase para. Não pode ser! Ela esta morta, não pode estar aqui. Quando o trem sai do túnel, Lucina não esta mais lá. Talvez nunca esteve. Isso é efeito do sono ruim.
Apesar de tudo, Reginaldo é pontual. Ele chega, pega o elevador que o leva para o andar inferior. Uma pesada porta separa o necrotério do resto do prédio. Ele olha para o extenso corredor branco a sua frente. Ele nunca havia notado como eram brancas as paredes. E as frias placas de aço inox. Eram brilhantes. Ao seu encontro, uma freira com seu abito negro. Ela passa por ele como um fantasma. Seu andar era rápido e silencioso. Dando a impressão que ela estava um palmo acima do chão.
Como um robô, Reginaldo cumpre as suas tarefas. Mas seus pensamentos estão na grande sala no final do corredor. Ele não para de pensar em Luciana. Ele quase pode ouvir ela o chamar: “Venha me ver Reginaldo” ele luta contra a vontade louca de ver o cadáver de Luciana. Mas força de vontade nunca foi uma de suas virtudes e ele se rende. Depois de verificar se estava só, Regis entra na câmera. Agora Luciana esta na gaveta. Esta muito frio, mas ele não se importa. Seus lábios estão mais vermelhos. Ele a toca. Ela esta fria. Mas continua bela, ele passa a mão em seus seios, em seu sexo. Ele não entende. Não tinha tesão por ela quando era viva. Com podia desejá-la depois de morta. Reginaldo mal pode controlar o desejo. Ele pensa em se masturbar ali mesmo. Afinal quem poderia descobrir. Mas ele tem outra Idea. Reginaldo estende um lençol no chão da câmera, e com cuidado ajeita o cadáver no chão. Sem se importar com o frio cortante. Reginaldo fica nu. E se deita ao lado do cadáver de Luciana. Ele a beija com carinho. Seus lábios são doces. Depois de alguns beijos apaixonados, Regis é tomado por uma onda de calor. E com força e paixão, violenta o belo cadáver de Luciana. Vinte minutos depois, Reginaldo tem o maior orgasmo de sua vida. Nem uma mulher viva já tinha lhe dado tanto prazer. Ele não se preocupa em usar camisinha afinal, não há rico de gravidez. Depois de tudo terminado. Reginaldo colocou tudo em seu devido lugar. E se vestiu. No final de seu turno. Ele foi para a casa. E dormiu como nunca tinha dormido antes. Na hora certa Reginaldo de despediu da esposa e foi trabalhar. Na manhã seguinte o corpo da jovem Luciana havia desaparecido. E o apaixonado Reginaldo nunca mais voltou para casa.

MH: Pessoas vemos, Taras não sabemos.

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