domingo, 27 de maio de 2007

Gallore.


Assim como os humanos, nos gatos também gostamos de nos reunir para conversar. Assim passamos ensinamentos, lendas e sabedoria aos gatos mais jovens. Sempre com a presença do gato mais velho da região. Não importava o território. Sempre o gato mais velho.
Nessas reuniões falamos de tudo. Brigas por território, por fêmeas ou por pura diversão. Mas quando o mais velho chega. Nos ficamos todos em silencio. Ele fala, nos escutamos. Essa noite o orador era o honorável Boris. Ele sobe ate a caixa d’água mais alta. E nos observa. Seu pêlo é de um cinza intenso e seus brilham como dois diamantes. À noite esta limpa não há uma única nuvem no céu e a lua cheia ilumina a todos. Quando todos estão em silencio ele começa.
- Bem vindos irmãos. Agradeço por estarem aqui, e a atenção que dão a este velho.
O silencio é total.
- Sei que muitos aqui já ouviram a historia que vou contar. Mas vejo muitos filhotes aqui hoje e tenho a obrigação de passar a lenda para frente. Se algum irmão quiser, pode se retirar com a minha benção.
Mas nenhum gato se moveu.
- Obrigado. A historia que vou contar é sobre o nosso salvador, do gato que ira nos liderar na guerra contra os humanos. Ao passar dos séculos ele ganhou vários nomes. Mas, eu sei seu nome verdadeiro. Seu nome é Gallore. Gravem bem esse nome meus filhos. Pois é ao lado dele que iram lutar.
- Como o senhor sabe disso?
Alguns olham com olhos opressores para o filhote de pelo branco.
- Não irmãos. Não repreendam o filhote ele tem o direito de perguntar e fico feliz com isso. Escute pequenino. Houve uma época que nos éramos adorados como Deuses. Tínhamos lacaios humanos que nos alimentavam e acariciavam nosso pêlo. Mas já estava previsto que nosso reinado sobre os humanos seria breve. Mas também estava previsto que a Deusa Bastet nos mandaria um gato superior. Um gato que pensaria como um humano.
- A Deusa já o mandou para nos senhor?
- Sim pequenino. E há séculos caminha entre nos. Ele é imortal.
- Besteira. Escuto isso desde que era apenas um filhote. Não existe gato imortal algum
Retruca um gato que acabara de se mudar para o nosso território.
- Cale-se. Ordena o nosso líder.
Uma breve discussão toma conta dos gatos no telhado.
- Irmãos, Irmãos... Por favor, deixem que eu acabe a historia.
O silencio volta ao telhado.
- Sua historia se confunde com a do homem. Reza a lenda que ele nasceu no antigo Egito e vem caminhando ao seu lado século após século. Viajou por toda o planeta a bordo de navios. Passando a mesma mensagem que tento passar durante toda a minha vida. Na idade media foi perseguido, queimado vivo. Por conta do medo do homem. Mas sempre voltava. Na renascença, poetas se inspiram em sua elegante postura. E criaram grandes poemas. Mesmo nas grandes guerras, ele nunca deixou de passar a mensagem. E cada gato que a escutava tratava de passá-la adiante. E assim tem sido desde tempos idos. Agora. Ele espera que façamos a nossa parte. Devemos nos unir. Devemos pensar em comunhão.
- Desculpe senhor, mas é meio difícil pensar que todos os gatos do planeta pensem uma coisa ao mesmo tempo.
- Não filho. Não precisamos dos gatos do mundo. Precisamos apenas que Mil Gatos. Queiram a mesma coisa.
Novamente a discussão toma conta do telhado. Gatos crentes e gatos descrentes.
- Não adianta é sempre assim. Nunca voltaremos a ser deuses. E é tão fácil. Basta acreditar. Mas infelizmente vai ser impossível.
- Senhor. Eu acredito. Diz o pequeno filhote de pêlos brancos.
- Então ainda há esperança.
O telhado agora esta vazio. Apenas um gato permanece. Um gato de Pêlo abóbora e listrado de cinza. Ele olha para a lua.
- Breve.


MH: Não estranhe se seu gato lhe rasgar a garganta um dia desses.

Um comentário:

Unknown disse...

Já ouviu a frase "você é o que você lê"? explore seu conhecimento, até mais do que mostrou tão bem aqui...

Abraço.

Lopes